Jornal Expresso

(In Jornal Expresso de 16 de Junho de 2007)

Um alvo chamado António Costa

Há quem aposte em cartazes e quem prefira os contactos olhos nos olhos.

Assim vai a campanha em Lisboa Foi num café de Lisboa. CARMONA RODRIGUES, António Cunha Vaz e Gabriela Seara sentados a uma mesa gastavam guardanapos de papel com rascunhos de frases para a campanha eleitoral. O candidato ensaia um refrão para o hino da candidatura: "O meu rio é o Tejo (...) Minha canção é o fado (...) O meu partido é Lisboa", "Tenho jeito para estas coisas", confessa ao Expresso. Consciente de que não tem qualquer máquina partidária atrás de si, Carmona aposta numa campanha de proximidade "nos bairros e nas colectividades". O amigo Cunha Vaz trata do «marketing» e só na última semana haverá «outdoors», "não mais que uma dúzia", espalhados pela cidade.

António Costa dramatiza - O candidato socialista inundou a cidade com uma primeira vaga de cartazes em que se apresenta como o homem do "rigor". Na apresentação do seu programa, apontou como prioridade o saneamento das contas da Câmara e assumiu o compromisso de, até ao fim de Outubro, pagar as pequenas dívidas do município (€5000, a 2500 fornecedores). Já com a segunda vaga de «outdoors» espalhados pela cidade, onde surgem os rostos de toda a equipa, o candidato do PS segue a estratégia de Sócrates em 2005: reforça a ideia de que as suas intenções poderão ser inviabilizadas se não obtiver um mandato expressivo nas urnas. Há-de manter o apelo à maioria absoluta até ao fim da campanha. Negrão quer bipolarizar - A colagem do candidato do PS às práticas do Governo é a principal estratégia do candidato do PSD.

Fernando Negrão lembrará em cada rua que Costa era o número dois de Sócrates. "A arrogância, o excesso de autoridade e a insensibilidade social serão transpostas para a cidade em caso de vitória do PS", afirmou ao Expresso Luís Campos Ferreira, um dos responsáveis pela campanha. Recorrendo, quase sempre, à mão-de-obra partidária, Negrão renovará em breve o jogo de cartazes elaborados pela agência de comunicação Ipsis. Embora reconheça que os candidatos independentes podem baralhar as contas desta eleição, o PSD está convicto de que a presidência da CML será jogada entre dois candidatos. Por isso, o candidato social-democrata vai insistir nos debates a dois, na esperança de que o candidato do PS aceite o desafio.

Roseta faz campanha directa - A candidatura de Helena Roseta não aborda o processo eleitoral segundo a óptica tradicional do «marketing» político. "Inspiramo-nos nos princípios da democracia participativa, quer para construir a lista e o programa, quer para comunicar a mensagem", explicou ao Expresso Luísa Jacobetty, avançando que a campanha é um tempo privilegiado para ouvir os cidadãos e por isso o primeiro passo foi construir duas vias para essa audição: directa, em bancas na rua, com recolha de reclamações e sugestões (campanha 'Dar voz ao cidadão') e via Internet. "A utilização do espaço público para afixação de propaganda será feita de forma minimalista, dados os absurdos custos económicos dessa opção", diz Jacobetty, acrescentando que a candidatura recorrerá "a formas alternativas de visibilidade pública".

O candidato-manjerico - A candidatura de José Sá Fernandes aposta numa campanha popular, dirigida a todos os sectores sociais de Lisboa. 'O Zé faz falta' foi o mote da primeira 'fornada' de cartazes. O candidato aposta agora no contacto 'intensivo' com as pessoas. "Queremos interpelá-las e conhecer as suas necessidades", diz Pedro Soares, coordenador autárquico do BE. No final do mês, entrar-se-á numa fase mais programática, "de afirmação das ideias políticas". Os «outdoors» já terão o rosto do candidato, embora mantenham o «slogan» popular. Haverá também um jornal de campanha para divulgar o trabalho do vereador, com tiragem de 100 mil exemplares. Em tempo de testas populares, o manjerico será o trunfo de Sá Fernandes. Foram encomendados alguns milhares, que o candidato distribuirá em arruadas e arraiais pela cidade. Com cada vaso será sempre distribuída uma bandeirinha com quadras alusivas à campanha eleitoral.

Voto útil é no CDS - Telmo Correia faz duas acções de campanha porta-a-porta por dia. A ideia é apresentar não um candidato, mas uma equipa, como fica claro no cartaz, o primeiro a apresentar vários rostos. A estratégia do CDS passa por dois eixos fundamentais: colar António Costa ao Governo sublinhando que o candidato do PS representa o esbanjamento da Ota, mais impostos, mais desemprego e promessas não cumpridas, fazendo desta eleição uma espécie de referendo municipal à governação. Por outro lado, há uma tentativa de contrariar o voto útil no PSD. Lembrando que Carmona e o PSD são os responsáveis pela situação da CML. "Se votaram PSD em 2005 e estão desiludidos, têm no CDS o voto útil".

Ruben ataca PS e PSD - O candidato comunista não isentará o bloco central de responsabilidades na situação a que a CML chegou. A situação financeira está no topo das preocupações da CDU juntamente com a gestão do espaço público e a situação dos trabalhadores da Câmara. Ruben de Carvalho elege ainda como alvo António Costa que, enquanto ministro, foi o responsável pela Lei das Finanças Locais que impôs cortes às autarquias.

Nuno Saraiva - Jornalista do Expresso